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PEDAGOGIA DA ALTERNANCIA SOB A LUZ DA TEORIA DO ATORREDE: O TRANSLADAR INICIAL DOS CENTROS FAMILIARES DE FORMACAO POR ALTERNANCIA/PEDAGOGY OF ALTERNATION UNDER THE LIGHT OF ACTOR-NETWORK THEORY: THE INITIAL TRANSLATION OF FAMILY CENTERS OF ALTERNATION TRAINING.

1. INTRODUCAO

A Pedagogia da Alternancia (PA) e um caso de Tecnologia Social (4) que trata de educacao formal basica para filhos de agricultores familiares e que tem contribuido na conceituacao de educacao do campo no Brasil. A PA baseia-se na formacao de jovens rurais por meio do envolvimento e participacao das familias, preparando-os para permanecer na propriedade familiar e promover melhorias, principalmente, nos aspectos gerenciais e produtivos das atividades agricolas (BARRIONUEVO, 2004). Ela e conhecida por fazer uma sincronia entre a escola e o trabalho, permitindo que o jovem continue estudando sem precisar se desvincular da realidade familiar, auxiliando nas atividades da familia com sua participacao e envolvimento. Dentre os objetivos da PA esta o desenvolvimento da realidade socioprofissional do jovem, a promocao do desenvolvimento tecnologico, economico e sociocultural da familia do aluno, e consequente da comunidade, propiciando-lhe condicoes de fixarse ao seu meio (GNOATTO et al., 2006).

O surgimento dessa TS data da decada de 1930, na Vila de Lot-et-Garonne, na Franca, por iniciativa de um grupo de agricultores que buscavam educacao para seus filhos e melhorias produtivas para suas propriedades familiares (BURGHGRAVE, 2003).
[...] para entendermos o processo melhor temos de voltar na historia e
compreender o contexto em que nasceu e cresceu a experiencia na Franca
no periodo entre-guerra. O mundo rural vivia uma situacao extremamente
dificil e a crise era geral. O exodo ja era realidade e os jovens nao
encontravam nenhuma perspectiva de permanencia digna no campo, nao
dispondo inclusive de nenhuma escola ou formacao adaptada a sua
situacao familiar e profissional. Insatisfeitos com esta situacao, um
pequeno grupo de agricultores, com a ajuda do cura local, encontrou uma
alternativa educacional que motivasse os jovens a permanecer no meio,
oferecendo-lhes a oportunidade de se preparar melhor para o exercicio
de sua profissao na propriedade familiar, sem negligenciar todavia os
outros aspectos da vida [...] (BURGHGRAVE, 2003, p. 16).


Os agricultores articularam um itinerario para os jovens, de maneira que eles permaneciam uma semana na Casa Paroquial, aprendendo conteudos formais, eticos e religiosos com o Paroco e tres semanas na propriedade familiar, aprendendo com a familia sobre as atividades da agricultura e da participacao comunitaria (UNEFAB, 2005). Essa experiencia iniciada na Vila de Lot-et-Garonne continuou sendo aperfeicoada, transferindo-se em 1937 para Lauzun, na Franca. Em poucos anos, ja existiam mais de 50 Centros aplicando essa metodologia na Franca. Os agricultores, por meio de uma associacao de familias, implantavam os Centros educativos, buscavam recursos para manutencao das despesas nos periodos em que os jovens permaneciam no centro escolar e definiam sobre a continuidade de sua formacao, inclusive sobre os aspectos legais de reconhecimento junto ao sistema de ensino frances.

Ocasionado, principalmente, pelas ausencias de politicas publicas para promocao das mudancas sociais, tecnicas e produtivas nas diversas regioes em que os agricultores se mobilizaram em torno da sua implantacao, essa experiencia educativa e organizativa se expandiu rapidamente para outros paises. Primeiro foi na Italia, logo apos o termino da Segunda Guerra Mundial, onde o modelo da PA foi visto como uma alternativa democratica e viavel para ajudar na reconstrucao socio-politica das comunidades no Pos-Guerra (NOSELLA, 1977). Logo em seguida, na decada de 1960, se expande para a Africa, primeiramente no Senegal, em uma realidade marcada pelo patriarcalismo, a ausencia de educacao basica e tecnicas agropecuarias muito incipientes se comparadas a realidade europeia.

No final da decada de 1960, a PA ja podia ser vista tambem em outros paises europeus, como a Espanha, e na America Latina, como Argentina e Brasil (GARCIA-MARRIRODRIGA, 2002). As realidades onde os Centros de aplicacao da PA foram instalados eram marcadas pela pouca infraestrutura basica, ausencia de ensino regular e baixas condicoes socioeconomicas das familias agricultoras. Em casos como o Brasil, havia uma forte mobilizacao popular, principalmente a partir das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e outras articulacoes comunitarias no campo.

Hoje no mundo existem aproximadamente 1200 Centros, espalhados por quase todos os continentes. No Brasil, conhecidos como Centros Familiares de Formacao por Alternancia (CEFFAs), o primeiro Centro foi fundado em 1968, no Espirito Santo, se espalhando rapidamente por todo o territorio nacional (UNEFAB, 2010). Hoje sao 268 em funcionamento no Pais. Inclusive Estados novos e mais distantes do Espirito Santo, onde se iniciou o primeiro Centro, tambem tem a PA sendo aplicada.

Puig Calvo (2006, p. 57), define os CEFFAs como sendo uma "associacao de familias, pessoas e instituicoes, que buscam solucionar uma problematica comum de evolucao e desenvolvimento local por meio de atividades de formacao, principalmente de jovens, porem sem excluir os adultos". E, em consequencia, para Puig Calvo (2006, p. 64), o proposito geral da organizacao e "conseguir a promocao e o desenvolvimento sustentavel das pessoas e de seu proprio meio social, a curto, medio e longo prazo, por meio de atividades de formacao integral, principalmente adolescentes, mas tambem de jovens e adultos".

O crescimento da PA e notorio e evidente atualmente. Mas como essa iniciativa, aparente sem recursos financeiros e estruturais se consolidou de tal maneira a se espalhar para o mundo todo? Para analisar como uma inovacao social como essa se consolida, nao foram consideradas, contudo, as teorias de inovacao (5), mas a Teoria do Ator-Rede (TAR) (6). A TAR permite seguir as associacoes sem pressupor se sao associacoes humanas, materiais ou tecnicas. Talvez, perspectivas como essa, possam trazer luz aos debates atuais sobre como, principalmente no ambito das organizacoes sociais, as inovacoes e transformacoes acontecem.

O estudo esta dividido, alem dessa introducao, em mais quatro secoes. A proxima que discute sobre a TAR; uma outra que apresenta os procedimentos metodologicos; seguida de uma secao central que apresenta as estrategias translativas de consolidacao da PA e, por ultimo, as conclusoes deste estudo.

2. TEORIA DO ATOR-REDE

A TAR e uma abordagem teorico-metodologica que trata das demandas empiricas e conceituais dos estudos em tecnologia (CALLON; LATOUR, 1981; CALLON, 1986, 1998, 1999; LATOUR, 1988a, 1988b, 1992, 1994a, 1994b, 1998, 1999, 2000, 2004a, 2004b, 2012; LAW, 1986, 1992, 1998, 1999, 2004, 2007, 2011; LAW; SINGLETON, 2000). O seu emprego tem sido uma das maneiras mais efetivas de resolver a dicotomia entre o determinismo tecnologico e o construtivismo social. A TAR concorda com a afirmacao do construtivismo social de que os sistemas sociotecnicos sao desenvolvidos por meio de negociacoes entre as pessoas, instituicoes e organizacoes, mas faz um argumento adicional de que os artefatos tambem sao parte destas negociacoes (LATOUR, 1992). Isso nao quer dizer que as maquinas pensam como as pessoas e tomam decisoes por elas, mas muitas vezes interferem com iguais possibilidades nos cursos dos acontecimentos cotidianos, sendo ambos atuantes e com papeis, muitas vezes, comparaveis nas relacoes sociotecnicas.

A TAR evidencia que:
[...] o novo hibrido social e praticas materiais sao restritas e
ativadas por praticas hibridas igualmente pre-existentes. Isso
significa que novas praticas implicam em teorias e versoes do social e
do mundo material que podem ser diferentes daqueles que existiam antes.
No entanto, por causa do cenario de praticas existentes, tais
diferencas tendem a ser limitadas e o mundo e sentido--na verdade e
constituido--como solido e obturado. A Teoria Ator-Rede nao e
relativista, mas tambem nao e realista. Desconstrucao e sempre
possivel, mas, dado o cenario de praticas existentes, tambem e muito
dificil. Conhecimento social e tecnologico, mundo social e seu contexto
material, sao todos obturados--realmente translocal, desde que eles ja
carreguem de um lugar para outro as texturas da pratica (LAW;
SINGLETON, 2000, p. 766, traducao nossa).


Os atores nao sao, na TAR, entidades absolutas e facilmente distinguiveis a principio. O ator e um conjunto heterogeneo de elementos (animados e inanimados, naturais ou sociais) que se relacionam de modo diverso, durante um periodo de tempo suficientemente longo, e que sao responsaveis pela "transformacao (incorporacao de novos elementos, exclusao ou redefinicao de outros, reorientacao das relacoes) ou consolidacao da rede por eles conformada" (DAGNINO; BRANDAO; NOVAES, 2010, p. 89). Nas palavras de Latour (1992, p. 175-176, traducao nossa), a TAR mostra que:
E a propria sociedade que deve ser repensada de alto a baixo, uma vez
que devem ser adicionada a ela os fatos e os artefatos que compoem
grande parte dos nossos lacos sociais. [...] a coisa coletiva, [...] e
muito cheia de seres humanos para se parecer com as velhas tecnologias,
mas e muito cheia de nao-humanos para se parecer com as teorias sociais
do passado. As massas estao em nossas tradicionais teorias sociais e
nao na tecnologia supostamente fria, eficiente e desumana.


A observacao empirica, caso a caso, dos interesses, negociacoes, controversias e estrategias, associados aos elementos humanos, assim como dos aspectos relativos aos demais elementos nao humanos e de sua correspondente resistencia e forca relativa, como sugere a TAR, e o ponto de partida para entender a dinamica dos agrupamentos organizativos em que as consideracoes sociologicas e tecnicas estao inextricavelmente ligadas (DAGNINO; BRANDAO; NOVAES, 2010). Para entender as transformacoes sociais e preciso desconsiderar os pressupostos causais de que sao as mudancas oriundas das organizacoes que podem levar a geracao de novas tecnologias ou, por outro lado, de que sao as aplicacoes tecnologicas organizacionais e que provocam mudancas sociais. A mudanca deve ser analisada como um processo translativo e nao difusionista.

3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

Para conducao da pesquisa, foram realizadas duas coletas de dados documentais. A primeira tratou de documentos que se relacionam a origem da PA na decada de 1930 e sua expansao ao longo das decadas seguintes. A segunda utilizou-se de uma base documental, em formato de entrevistas, produzida na decada de 1990, com pesquisadores e pessoas influentes sobre a PA no contexto mundial.

Quanto a primeira coleta, foi definido primeiramente que os documentos poderiam ser impressos (livros, manuais e outros) ou digitais. A condicao com relacao aos digitais eram que so seriam analisados a partir da extensao Portable Document Format (pdf) e que tivessem condicoes de serem identificadas as fontes. A exigencia de ser pdf era para assegurar maior qualidade e integridade do material coletado. Fisicamente foram pesquisadas duas bases de dados. A biblioteca da Uniao Nacional das Escolas Familia Agricola do Brasil (UNEFAB), localizada no Municipio de Orizona, no Estado de Goias e a biblioteca da Associacao das Escolas Familia de Rondonia (AEFARO), localizada no Municipio de Ji-Parana, no Estado de Rondonia. A biblioteca da UNEFAB reune acervos que englobam toda a literatura da PA no Brasil, por ser a Uniao das entidades no contexto brasileiro. A biblioteca da AEFARO se assemelha as muitas bibliotecas regionais, tendo em vista que Parana e Rio Grande do Sul, Bahia, Rondonia, Minas Gerais, Espirito Santo, Amapa, Maranhao, dentre outras regionais, possuem suas proprias bibliotecas. Foram coletados doze documentos, todos com referencia a origem ou expansao da PA.

Eletronicamente foram usadas cinco bases de pesquisa: o sitio da Union Nationale Francaise des Maisons Familiales Rurales D'Education et D'Orientation, da Association Internationale des Mouvements Familiaux de Formation Rurale, da UNEFAB e da Associacao Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil (ARCAFARSUL). Essas bases digitais foram selecionadas por serem sitios oficiais de organizacoes que trabalham com a PA no Brasil e no mundo. Alem dessas bases de dados digitais de entidades que trabalham com a PA, foi realizada pesquisa tambem no sitio do Google, na funcao "Pesquisa Web".

As pesquisas no Google foram realizadas usando os seguintes termos de pesquisa: pedagogia da alternancia e pdf, pedagogie de l'alternance et pdf, pedagogy of alternation and pdf e pedagogia de la alternancia y pdf, respectivamente em Portugues, Frances, Ingles e Espanhol. A conjuncao "e", seguida de "pdf", foi usada para que fossem priorizados retornos de documentos no formato pdf. Foram retornados 54 documentos selecionados como validos. A validade foi considerada se o documento mencionava, ou nao, a origem ou evolucao da PA.

A saturacao da pesquisa documental nas bases fisicas se deu pela completude, ou seja, foram vistoriados todos os documentos a disposicao nas bibliotecas mencionadas. A saturacao dos materiais de fontes digitais se deu de duas formas. No caso das fontes que trabalham com a PA, todos os materiais disponiveis para downloads em pdf foram analisados. Foram baixados e armazenados somente aqueles que mencionavam, de alguma forma, a origem e expansao da PA. A saturacao de pesquisa no Google "Web" foi realizada por meio do numero de paginas analisadas. Para todos os idiomas da pesquisa, foram consideradas as dez primeiras paginas, isso por avaliar que a partir desse ponto os retornos nao mais traziam conteudos diretos ao termo pesquisado, de modo que preenchesse os requisitos definidos no ato da busca.

A segunda coleta de dados consistiu em um conjunto de documentos, em formato de entrevistas, realizadas pelo pesquisador Suico Pedro Puig Calvo, na segunda metade da decada de 1990, que investigou sobre a PA. A descoberta desses dados foi feita por meio dos documentos levantados eletronicamente e que faziam referencias a essas entrevistas. Foi realizado contato com o referido pesquisador que cedeu as entrevistas para uso nessa fase de coleta de dados. As questoes foram avaliadas como diretamente relacionadas ao conteudo da pesquisa e foram, na integra, consideradas como fonte de dados para a pesquisa.

As entrevistas foram realizadas com pessoas que participaram, de uma forma ou de outra, da historia da PA, principalmente durante o seu processo de expansao na Franca e em outros paises apos sua consolidacao como metodologia educativa apropriada a educacao do campo. Todas as entrevistas realizadas, em um total de quatro, foram usadas integralmente como dados para uso nesta fase de coleta. Pelo fato das entrevistas serem realizadas em lingua francesa, o documento original que as contem tambem esta na mesma lingua, sendo que o documento nao foi traduzido para o Portugues por entender que nao comprometia a analise.

O corpus da pesquisa, como resultado dessas duas formas anteriores de coleta de dados, foi composto, como visto, por uma "colecao finita de materiais" (BARTHES, 2007, p. 104). Foram doze materiais impressos, cinquenta e quatro documentos digitais e um documento (digital) contendo as entrevistas.

Apos reuniao de todo o material, foi realizada a analise dos dados. Primeiro foi feita uma analise de cada documento, tomando conhecimento de seu conteudo, situando-o temporal e espacialmente e organizando-os em quatro grupos diferentes: documentos que todo seu conteudo dizia respeito aos objetivos da pesquisa (grupo 1); documentos que continham parcialmente conteudo de interesse da pesquisa com conteudo inedito (grupo 2); documentos que continham parcialmente conteudo de interesse da pesquisa, mas que seu conteudo era comentarios de fontes originais selecionadas no primeiro ou segundo grupo (grupo 3); e documentos que, nessa nova analise, foram considerados como irrelevantes para a pesquisa (grupo 4).

A leitura dos textos foi orientada pelas diversas translacoes que iam sendo evidenciadas nas leituras. Em cada translacao identificada, a leitura concentrava nessa translacao e todos os materiais eram analisados para esgotar todas as informacoes disponiveis sobre as acoes que caracterizavam essa translacao. A figura 1 mostra o exemplo de uma translacao e como os textos foram analisados a partir dela.

Apos relatada uma translacao, ou um conjunto de translacoes em que os textos faziam referencia, era dado continuidade na analise, sempre observando as relacoes, tanto com a ultima, como com as demais translacoes anteriores. Ao longo do texto que se formou na conjuncao dessas translacoes, foram sendo identificadas sequencias entre elas e agrupamentos foram feitos. Ao final teve-se um texto que permitiu evidenciar a implementacao da PA e acompanhar seu percurso ao longo de sua historia.

4. ESTRATEGIAS TRANSLATIVAS DE CONSOLIDACAO DA PA

O carater organizativo dos CEFFAs desde o principio se mostrou muito bem articulado, por um lado, mas no limite da flexibilidade total, por outro. O objetivo do grupo inicial, na decada de 1930, era claro: desenvolver o meio rural. Mas paralelo a esse objetivo passaram a se apoiar tambem em bases solidas e nao se prender estritamente a esse fim unico. Ate porque as denominacoes dos envolvidos eram muitas: agricultores, pequenos empresarios, dirigentes sindicais, sacerdotes, dentre outros. Desse modo, entendiam que era necessario um modelo de gestao autonomo e que fosse assegurada a participacao das familias. Como diz Pedro Puig (2006, p. 244), "[...] a responsabilidade das familias e a gestao do centro de formacao sao elementos imprescindiveis no funcionamento dos CEFFAs". A participacao das familias foi assegurada por entenderem que a familia pressupunha uma seguridade nao vista nos individuos. "Portanto, encontramos de uma forma muito clara, que nossas Casas foram conduzidas por associacoes de familias e nao por associacoes de pais". Alem disso, "a associacao de pais e muito perigosa, porque e uma associacao de usuarios, enquanto uma associacao familiar e uma reuniao de familias" (DUFFAURE, DOC, N. 1).

Nesse sentido, Nove-Josserand fala que:
As coisas sao muito claras: a MFR nao esta sob a principal
responsabilidade do estado; a MFR nao esta sob a responsabilidade de
uma igreja qualquer sob o pretexto de que e protestante, catolico ou
mulcumano: isto pouco importa; a MFR nao esta sob a responsabilidade de
uma organizacao profissional. Todas essas organizacoes, todos esses
organismos--o estado, as igrejas, os sindicatos--devem respeitar
integralmente a responsabilidade das familias, e as familias
responsaveis solicitam ao Estado, a Igreja, a uma organizacao
profissional, para que colaborem, para que ajudem, de uma forma ou de
outra, mas nao os chama para que eles governem. Isto e muito
importante. Na pratica, atualmente, quando se parte do nada, se esta
certamente obrigado a aceitar um pouco o peso das organizacoes que
apoiam, porem seria um erro grave, muito grave, nao fazer de uma MFR
uma associacao. Nao importa se sao somente quatro ou cinco familias. Na
criacao da primeira MFR eram apenas tres, eram tres familias de quatro
alunos. Foi preciso, portanto, uma Associacao de familias (PUIG-CALVO,
2006, p. 256).


Assim, as familias optaram pela associacao e nao por outras formas organizativas. O argumento para escolha da associacao e nao outra forma organizativa foi que "as familias que tinham a experiencia da criacao de uma cooperativa disseram, nao! Seremos nos que a gerenciaremos, e nosso problema [...] vamos assumir nossa propria responsabilidade [...] vamos comprar nosso local e pediremos um emprestimo para compra-lo" (CHARTIER, DOC, N. 2). Entrar para a "Corporacao Campesina", como diz Chartier, significava perder a liberdade de acao. Ficar vinculado ao Sindicato, as familias entendiam, do mesmo modo, que as condicoes eram parecidas com a vinculacao a corporacao. Uma associacao, ao contrario, permitia a participacao e, em consequencia, o esforco e o trabalho coletivo.

A escolha da associacao favoreceu, no entendimento dos problematizadores da PA, a definicao de suas diretrizes legais. O pressuposto desses atores foi que "se fala de associacao quando um grupo humano dispoe de uma estrutura legal que facilita a realizacao dos fins para os quais se propoe a associar. A estrutura legal tambem facilita o reconhecimento publico e uma capacidade legal para realizar certos atos" (PUIG-CALVO, 2006, p. 246). Inscrever uma legalidade oferecia condicoes de tornar esses atores conhecidos e com possibilidades de realizacao de seus objetivos. Alcancar objetivos, conforme mostram os documentos, esse era o principal foco da organizacao juridica que tinham acabado de criar. O estatuto juridico seria o responsavel de atuar internamente, mantendo os objetivos do grupo de maneira coesa e, externamente, condicionou que outras organizacoes reconhecessem e aceitassem a Maison Familiale Rurale (MFR) como uma entidade valida e com forca para obtencao de seus propositos.

Desse modo, antes da PA e de todos os aspectos escolares e pedagogicos, foi necessaria a existencia da Associacao. A existencia da PA estava condicionada aos propositos sociais e de transformacao da realidade rural. Nesse sentido, "a Associacao e anterior ao Centro Educativo, e uma vez constituida e assentada, toma sobre si a responsabilidade de criar e manter o Centro Educativo como meio imprescindivel para conseguir os fins de formacao e promocao humana que se persegue" (PUIG-CALVO, 2006, p. 247). A Associacao foi colocada como condicao para desenvolver o meio rural e a PA foi somente um meio instrumental de alcancar esse proposito. Assegurar a participacao das familias como gestoras da Associacao foi um mecanismo importante para garantir a aplicabilidade do proprio metodo pedagogico que estavam tambem desenvolvendo, mas que ja compreendiam estar dissociado e autonomo com relacao a sua base associativa. Ou se estruturavam associativamente, ou nao conseguiriam assegurar os fins que foram definidos desde a origem da PA. Andre Duffaure (DOC, N. 1) fala nesse sentido que "se tivermos a ambicao, a ambicao justa para desenvolver um metodo de educacao que parece bom para a nossa sociedade moderna, precisamos estar unidos, porque a uniao faz a forca. E por isso que nos criamos uma associacao".

5. PRESENCA E PARTICIPACAO DE ALIADOS

Uma caracteristica evidenciada ao identificar a estrategia usada na criacao da Associacao, foi a constatacao da existencia de multiplos atores. Uns sao humanos: familias, jovens, monitores, coordenadores, pessoal de apoio e outros sao nao-humanos: plano de formacao, caderno da realidade, caderno da alternancia, caderno didatico, dentre outros. Com isso, as conexoes associativas que formam o que se pode denominar aqui de rede CEFFAs, foram delegando responsabilidades a esses aliados, tornando-os complementares uns aos outros de tal forma que a performance de um foi se tornando condicionada as acoes dos demais, o que produziu, na PA, um emaranhado heterogeneo de programas de acao diferentes: plano de estudo, tutoria, visitas as familias, viagens de estudos, mutiroes, dentre outros. A Figura 2 mostra os diversos atores mediadores envolvidos na translacao da PA.

Os atores na rede que forma a PA tem suas atuacoes sempre condicionadas pelas conexoes dos demais e pelas caracteristicas desses programas de acoes o que os mantem sempre em vinculos mediativos. Essa, aparente, dificil articulacao, assegurou ao longo da formacao da PA que os aliados continuassem presos aos objetivos da PA, mesmo que houvesse um movimento de entrada e saida de atores e de inicio e encerramento de programas de acao.

6. PROGRAMAS DE ACAO

O aspecto associativo sempre foi considerado o principal marco de existencia da organizacao CEFFA. A Associacao e reconhecida como a base onde se assegurou efetivamente a participacao das familias. Nas falas, slogans e outros meios de divulgacao das caracteristicas dos CEFFAs, a Associacao e destacada como o elemento que permitiu o surgimento e crescimento da organizacao e, consequentemente, da PA. Isso pode ser visto na definicao de MFR,
Associacao de familias, profissionais e instituicoes, que assumem a
responsabilidade do desenvolvimento e da promocao do meio rural por
meio de acoes educativas integrais e de formacao profissional
--especialmente com jovens -, como resposta a uma problematica comum.
Para isso se baseia na pedagogia da alternancia [...] (GARCIA
-MARRIRODRIGA, 2002, p. 45).


A PA aparece como resultado de uma base organizativa bem articulada e que permitiu que fossem alcancados os objetivos da organizacao. Mas, sera a Associacao a causa do desenvolvimento da PA? Seria possivel visualizar uma hipotese contraria? De fato, em alguns momentos nos relatos identificados, ha uma visao de que, como fala Garcia-Marrirodriga (2002, p. 51):
A associacao e um principio fundamental, indispensavel, na Pedagogia da
Alternancia. E isto em varios sentidos: associar a formacao geral ou
cultural a formacao tecnologica no ensino profissional; associar a
escola e o mundo do trabalho, ou a escola e a vida; associar as
familias e o ambiente da escola.


Ou seja, a associacao aqui ja e vista como verbo e nao como substantivo. Em 29 de setembro de 1935, quando estiveram reunidos Granereau, Peyrat, Clavier e Callewaert, a discussao nao versou sobre a associacao, mas sim sobre o que os filhos fariam na Casa Paroquial e, de volta para casa, o que fariam na propriedade familiar. O motivo do encontro, como conta Pedro Puig (2006, p. 44), foi que "estes pioneiros [...] analisaram a realidade e [...] decidiram as linhas basicas do plano de formacao". Desse modo, "nessa primeira reuniao se tratou tambem do assunto do alojamento, da manutencao e os gastos da pensao. Para o alojamento a casa paroquial de Serignac-Peboudou era suficiente [...]".

E assim foram delineando as demais condicoes e necessidades para a permanencia e aprendizagem dos jovens. A demanda por recursos, gestao, controle e outros aspectos associativos e administrativos vao, paulatinamente, aparecendo para serem resolvidos, ja que as familias, por intermedio principalmente dos jovens, se tornavam cada vez mais aliciadas para participar e assumir responsabilidades. Seja no acompanhamento pedagogico do filho no seu periodo familiar, seja participando das demandas do Centro Educativo.

Ao definirem um ritmo de trabalho e estudo para os jovens de uma semana na Casa Paroquial e tres na propriedade familiar, muitos programas diferentes foram demandados a partir dessa decisao. O programa de acao de criacao de uma base juridica e, consequentemente, associativa, foi so um deles. Como deveriam ser coparticipantes do processo de formacao dos jovens, muitos outros surgiram.
Em 1937, na MFR de Lauzun, nao existiam relacoes precisas entre o
programa proposto aos alunos no centro e suas atividades nas
propriedades. No entanto, esse ir e vir entre a escola e a exploracao
familiar, o jovem nao parava de dialogar com seus pais e monitores. Seu
trabalho na propriedade era fonte de interrogacoes e o fato de aprender
tecnicas novas no centro, o fazia refletir com frequencia sobre as
praticas habituais da propriedade (GARCIA-MARRIRODRIGA, 2002, p. 58).


Os dialogos foram se tornando cada vez mais sistematicos e organizados. Desde Serignac-Peboudou que as atividades ja eram inscritas em roteiros especificos e organizadas por temas. Esses temas, cada vez mais foram se tornando os "planos" de estudo que eram desenvolvidos sequencialmente entre os periodos escolares e os periodos familiares. As familias participavam das definicoes desses temas e na sua execucao, seja acompanhando os jovens no periodo familiar, seja fazendo intervencoes pedagogicas no periodo escolar.

Na pratica, o Plano de Estudo (PE) e "uma investigacao participativa sobre um tema especifico dentro do Plano de Formacao. Ele permite articular o saber pessoal do aluno, com sua familia, seu meio social e profissional, com os conhecimentos gerais, tecnicos e cientificos" (GARCIA-MARRIRODRIGA, 2002, p. 130). Ele aglutina todos em torno do estudo, da participacao e da aprendizagem partilhada. Os pais definem a aprendizagem dos filhos ao definirem seus temas de estudo. Os filhos aprendem ao questionar e dialogar com seus pais. Os monitores participam ao inserir conteudos tecnicos e cientificos e aprendem com as colocacoes em comum dos jovens sobre suas realidades familiares. Os pais aprendem com os retornos e as experiencias dos filhos. O que os motivam para outras Assembleias e outras definicoes de temas. E, em consequencia, discutem os problemas financeiros, organizativos, associativos e outros que sao necessarios para manter o Plano de Estudo e toda a PA continuamente. A associacao que se apresentava como o fim ultimo da organizacao aparece, com o PE, como o meio necessario para articular a participacao coletiva e assegurar as responsabilidades, principalmente das familias. Em entrevista, Daniel Chartier, chama atencao sobre essa particularidade, "[...] eu estava no Brasil com Pierre Gilly e nos andamos em varias regioes do Nordeste. Em alguns lugares foi a Igreja ou o Estado mesmo que gerou as Casas Familiares de la. Sob estas condicoes, os Planos de Estudos nao sao muito adequados" (CHARTIER, DOC, N. 2).

O PE, ao final da decada de 1930 e, principalmente, na decada de 1940, quando os programas pedagogicos sao intensificados, ja aparecia como um programa de acao oficial da PA. Os mediadores que atuam no transporte da PA tem, no PE, o elo que os direcionam para determinados fins especificos, como ja discutidos. As familias, jovens e demais atores inicialmente envolvidos, na tentativa de assegurar um itinerario de formacao, se veem cada vez mais aliciados e orientados por temas que direcionam suas atividades, inclusive as organizativas.

Em grosso modo, as Assembleias previam recursos, definiam os temas e assegurava a participacao das familias. Os jovens e os monitores elaboravam os temas e contextualizavam sua aplicacao. As familias, empresas e outros atores no meio socioprofissional introduziam os conteudos e as curiosidades relevantes para as pesquisas no Centro Familiar. O Caderno da Realidade (CR) documentava toda a producao desenvolvida tanto no periodo familiar como escolar. O Caderno da Alternancia (CA) transportava os recados, lembretes, conteudos, observacoes e outros aspectos relevantes a serem comunicados a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se envolviam nesse processo. O PE era a articulacao que, mais visivelmente, assegurava a periodicidade dos ciclos rotineiros de aplicacao dos temas e desenvolvimento dos trabalhos de aprendizagem dos jovens, alem de reunioes, encontros ou Assembleias das familias.

O envolvimento demandado para realizacao das atividades de "relacao" entre a familia e escola, sendo o PE o programa de acao mais amplo e abrangente dentro da PA, desencadeia varios outros programas que complementam ou asseguram a sua continuidade. As Visitas de Estudo, por exemplo, sao realizadas na medida em que os temas de estudo sao definidos e os levantamentos iniciais dos jovens junto as suas familias e comunidades sao realizados. Isso nao quer dizer, contudo, que o PE surgiu primeiro do que os demais programas. Na primeira semana de atividades dos quatro jovens na Casa Paroquial, juntamente com Granereau, ja foram realizadas visitas no meio socioprofissional de Serignac-Peboudou para relacionar teoria e pratica em seus estudos na Casa Paroquial.

As Visitas de Estudo (VE) foram ao longo, principalmente, da decada de 1940, se sedimentando de tal forma dentro do itinerario formativo que passou a ser considerado um dos principais instrumentos de "complemento" ao PE. As Visitas servem para deslocar os jovens para as problematicas rurais, na medida em que eles saem de suas propriedades e do Centro Educativo para conhecer outras realidades. De modo mais amplo, permitem inserir conhecimentos, experiencias, atividades e outros aspectos a rotina, tanto do Centro Educativo, como nas atividades familiares. "A VE permite a MFR, ainda, sensibilizar profissionais e empresas sobre os objetivos do desenvolvimento do meio e da Associacao". Alem disso, "o lugar da VE se situa, geralmente, depois do PE com o fim de enriquecer, ampliar ou dar um novo enfoque ao horizonte descoberto no meio socioprofissional" (GARCIA-MARRIRODRIGA, 2002, p. 140).

Essa relacao, contudo, nao e somente externa a associacao. Alem dos jovens realizarem as Visitas de Estudo e assim como as familias obrigatoriamente e rotineiramente tambem estao no Centro Educativo, os monitores tem a tarefa de visitar a realidade familiar dos jovens e suas familias periodicamente. Abbe Granereau, Jean Cambon, Patrick Laurent e os demais primeiros monitores que se tem registro, principalmente pelo consideravel tempo em que os jovens permaneciam na propriedade familiar, acompanhavam as atividades familiares, principalmente relacionadas aos PE, fortalecendo o vinculo entre escola e familia e assegurando os diversos compromissos. Da cobranca dos monitores e familia para com o jovem. Do jovem e monitores para com a familia e, assim, sucessivamente. A Figura 3 mostra as principais relacoes de aplicacao da PA que tem sido preservadas ao longo dos diversos relatos e documentos analisados.

No Centro Educativo, a Tutoria do monitor na orientacao pessoal e profissional do jovem foi outro programa de acao que se tornou presente ao longo da formacao da PA. Alem de intermediar a relacao familiar entre jovem e familia, a Tutoria tem a funcao de intermediar as relacoes do jovem com os demais, com sua realidade socioprofissional e com o proprio Centro Educativo, como um todo. A fala de um jovem ilustra como esse Programa de acao influencia no cotidiano dos jovens.
[...] tinha muitas vezes dela [a monitora tutora] chegar e conversar
comigo, porque eu ficava assim nos primeiros meses naquela vontade de
ir embora. Mas ai, como foi passando o primeiro, o segundo mes, quando
chegava o domingo, eu ja estava com a mala pronta pra poder ir para a
escola no outro dia.

[...] depois de um mes a gente viu a diferenca de estudar numa escola
que voce ia aprendendo, ao mesmo tempo levando para casa e ao mesmo
tempo, ficando com a familia (FONSECA, 2008, p. 144).


Cada ator desempenha seu papel especifico em cada Programa de acao e assegura a participacao e o envolvimento de todos. A Associacao, que inicialmente parecia ser a iniciativa que tinha desencadeado todas as demais, aparece agora como mais um programa de acao que da suporte para que a interacao entre atores e demais programas sejam realizados. A PA que aparecia como uma rotina de mudanca social comeca a se apresentar muito mais com "associar" na perspectiva do "unir, fazer ou ter em comum" (STRUM; LATOUR, 1987, p.793).

7. DEFINICOES GERAIS DE CONSOLIDACAO DA PEDAGOGIA DA ALTERNANCIA

As translacoes iniciais que definiram a PA e as Associacoes Escola Familia Agricola (EFAs) basearam-se na participacao da familia e no estabelecimento de aliancas com muitos atores, dentre eles a Igreja e o Estado, possibilitando que varios objetivos fossem inscritos e buscados. Os dois principais objetivos que destacaram foram a formacao integral, em um ambito mais estrito e imediato e o desenvolvimento sustentavel, de maneira mais ampla e de longo prazo. A Figura 4 mostra os principais objetivos e meios definidos no decorrer das translacoes que asseguraram uma identidade a PA e a Associacao EFA ao longo das decadas seguintes as inscricoes iniciais no final da decada de 1930 (7).

Alem das parcerias, as translacoes geradas pelas atuacoes dos primeiros envolvidos com a PA definiram diversas formacoes associativas (Centro Educativo, Associacao Local, Associacao Regional, Associacao Nacional e Internacional) que asseguram que os atores em seus diversos contextos (micro no caso da Associacao Local e macro no caso da Associacao Nacional) pudessem dispor, ao mesmo tempo, de autonomia e controle sobre as acoes, tanto internas quanto externas a Associacao em questao. Esse misto de autonomia e controle permitiu que a PA transladasse diferentemente em diversas regioes, sem perder os "principios essenciais" como discorrem os proprios envolvidos.

Especificamente, enquanto os atores que transladaram a PA tiveram autonomia para aplicar os "instrumentos metodologicos", como sao conhecidos os diversos programas de acao inscritos em sua composicao (PE, tutoria, visitas as familias, viagens de estudo, mutiroes, estagios e projetos profissionais), as suas atuacoes, sejam eles atores humanos (familias, jovens, monitores, coordenadores, mestres de estagios e pessoal de apoio) ou nao-humanos (Plano de Formacao, Caderno da Realidade, Caderno da Alternancia e Caderno Didatico), asseguraram que a mesma fosse sempre uma nova aplicacao, as vezes muito proxima das configuracoes anteriores, em outras com acentuadas diferencas.

A definicao de "como" a PA seria transladada foi uma definicao de cada Associacao EFA. Foi o delineamento da Associacao que possibilitou que a PA fosse sempre um fluxo estabilizado de informacoes, transladando sempre entre uma completa manutencao de suas rotinas e uma completa mudanca de suas relacoes e conexoes. Alem disso, a inscricao continua de formacao no decorrer das translacoes da PA, seja por meio do Centro Pedagogico, ou de muitas inscricoes ou centrais de calculo (LATOUR, 2000) registradas (8), permitiu que as controversias fossem solucionadas e a PA pudesse transladar em um misto constante de unidade e continuidade, relacionando continuamente o passado e o futuro das inscricoes estabilizadas. Ao manter o passado e buscar continuas mudancas enquanto avancavam em direcao aos seus objetivos, os atores que transladaram a PA tiveram sucesso principalmente ao inscrever e expandir material didatico pedagogico, buscar reconhecimento no ambito socioprofissional e estabelecer parcerias com as instituicoes profissionais, educativas e politicas assegurando relevancia e notoriedade, tanto aos objetivos, como aos meios definidos nessas translacoes.

Ha que considerar tambem que as influencias externas da epoca (Sindicatos Rurais, Circulos de estudo, semanas rurais), interessamentos (Sillon, Personalismo) e problematizacoes (aliancas, necessidades e responsabilidades), mobilizaram atores humanos e nao-humanos em torno de diversos programas de acao e inscricoes que definiram os objetivos e meios que se tornaram identitarios da PA. Enquanto alguns desses atores agiram mais diretamente na manutencao das inscricoes existentes que delinearam as principais rotinas e asseguraram, ostensivamente, suas uniformidades, outros atuaram, performativamente, mais diretamente na busca por mudancas e definiram, ininterruptamente, novas possibilidades a essas rotinas. Isso ocorreu, pois, na medida em que as principais inscricoes (participacao das familias, itinerario formativo, insercao de mediadores e o internato) e objetivos (de formacao integral, por um lado, e desenvolvimento sustentavel, por outro) se tornaram evidentes, cada vez mais as rotinas da PA se tornaram estabilizadas, mas demandantes da atuacao dos mediadores, tanto para manutencao dessa estabilizacao como para alcance desses e de novos objetivos. A Figura 5 mostra a estabilizacao da PA.

A atuacao dos mediadores, em um esforco continuo de manutencao do passado e de alteracao das possibilidades futuras, inscreveu a PA em continuas translacoes, fazendo com que a PA que comecou a expandir na decada de 1950 tivesse as acentuadas variacoes descritas, tanto com relacao aos objetivos, como com relacao as inscricoes e mobilizacoes realizadas inicialmente na decada de 1930. A cada momento analisado havia inscricoes, programas de acoes e problematizacoes especificas, mas continuamente transladadas em deslocamentos, as vezes com acentuadas variacoes, as vezes de maneira imperceptiveis.

8. CONCLUSAO

De maneira geral, ha quatro estrategias que chamaram atencao na consolidacao da PA ao longo das decadas que sucederam seu surgimento. A primeira estrategia diz respeito ao modo como a participacao das familias foi assegurada, os objetivos principais foram mantidos e as responsabilidades foram definidas. Nesse aspecto, os MFRs se apresentaram ao longo das decadas seguintes como associacoes bem articuladas, com visoes e funcoes bem claras, deixando bem evidentes os objetivos que deveriam ser seguidos, nao deixando margens para manobras de formacao de novos e diferentes grupos. Alem disso, definiram uma associacao local, uma associacao regional e uma associacao nacional e, mais futuramente, internacional, nao deixando espaco para que novas designacoes associativas se distanciassem desses centros de calculo estabelecidos. Tracam tambem claramente quais seriam os principios associativos, o papel dos grupos de trabalho e as estrategias centrais da organizacao, definindo as especificidades e as passagens necessarias para manter a continuidade da organizacao em linha reta, sem novos desvios ou desvios desconhecidos.

A segunda estrategia diz respeito ao recrutamento de aliados. As MFRs souberam buscar cada vez mais aliados quanto fosse possivel, sabendo limitar suas atuacoes dentro das direcoes das atribuicoes que lhes fossem cabiveis. Foi assim na definicao de quem seriam os monitores, coordenadores e auxiliares, tanto em ambito pedagogico como administrativo e de apoio. Definiram tambem as principais atividades, com as especificidades de cada atribuicao e as condicoes para atuar como responsaveis pela PA. A partir dessa estrategia foi possivel desenvolver objetivos com um grande numero de aliados, mas com atribuicoes de responsabilidades especificas e de modo que seus comportamentos fossem controlados e direcionados para acoes previamente estabelecidas.

A terceira estrategia diz respeito as necessidades de resolucao de controversias entre os aliados externos, como as familias e outras instituicoes parceiras, e dos proprios recrutados internamente para desempenho das atribuicoes de responsabilidades. Para isso, definiram planos de formacao adequados, conteudos especificos e motivacoes apropriadas para dirimir controversias oriundas das bifurcacoes de interesses presentes nas interacoes entre aliados externos e internos aos Centros Educativos. Alem disso, a formacao concentrou nao so nos jovens e naqueles que tinham atribuicoes internas a desempenhar, mas tambem naqueles que eram "formadores de formadores", ou seja, nas familias e nos monitores, garantindo que os direcionamentos definidos fossem, seguramente, seguidos.

A ultima estrategia identificada diz respeito as inscricoes necessarias para dar sentido e validade ao metodo pedagogico que estava sendo transladado. Para isso, fizeram com que as inscricoes tivessem repercussao no ambiente academico frances e posteriormente para onde os CEFFAs fossem se estendendo. Asseguraram tambem a producao de material didatico-pedagogico para garantir uma nitida presenca da PA dentro do Centro Educativo e fora dele. E, alem desses aspectos, fizeram com que a PA fosse reconhecida no ambito publico, no meio socioprofissional e cientifico-academico. A estrategia nao consistiu, somente, em inscrever todas essas acoes, mas principalmente em criar um "centro pedagogico" que se tornou a principal central de calculo para que os porta-vozes pudessem atuar a distancia e controlar aliados.

A forma como a PA se consolida se da de maneira muito especifica, sendo um processo translativo peculiar e que inviabiliza qualquer generalidade a partir de seu estudo. Observar as translacoes permite compreender, como evidenciado, como os atores se formam, como eles mediam as construcoes sociotecnicas que definem os arranjos organizacionais e em quais pressupostos essas construcoes se baseiam. Aprofundar os estudos sob perspectivas translativas pode contribuir para redesenhar os construtos que envolvem temas como Tecnologia Social, Gestao Social, Inovacao Social, dentre outros que buscam superar as obsoletas e lineares correntes hegemonicas dos estudos organizacionais.

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Jose de Arimateia Dias Valadao (1)

Jackeline Amantino de Andrade (2)

Paulo Henrique Silva (3)

Manuscript first received/Recebido em 21/03/2018 Manuscript accepted/Aprovado em: 21/06/2019

(1) Doutor em Administracao pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Professor Adjunto na Universidade Federal de Lavras (UFLA). [email protected].

(2) Doutora em Administracao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Professora Associada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). [email protected].

(3) Mestre em Administracao Publica pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Secretario de Planejamento na Prefeitura Municipal de Candeias/MG. [email protected].

(4) Tecnologia social e uma corrente de desenvolvimento que emergiu na America Latina nas ultimas decadas, principalmente no Brasil, propondo repensar a producao cientifica e o desenvolvimento tecnologico latino-americano (POZZEBON; FONTENELLE, 2018). Essa corrente tem partido do entendimento que os modelos tecnologicos e a producao cientifica tem se baseado na dinamica de pesquisa e desenvolvimento e nao a partir dos problemas dos publicos alvos (DAGNINO, 2010). Desse modo, as tecnologias sociais pressupoe que sejam desenvolvidos tecnicas, ferramentas, produtos e metodologias integralmente participativos com as comunidades, gerando transformacoes sociais por meio das necessidades e demandas locais e nao por meio de iniciativas difusionistas que colocam as comunidades somente como receptadoras do conhecimento cientifico e tecnologico.

(5) Inovacao social aqui nao e entendida no sentido instrumental neo-shumpeteriano, em que ela e a estrategia ou fatores que dao solucoes aos problemas sociais (MUMFORD, 2002; NICHOLLS, 2010). Pelo contrario, a inovacao social aqui, condizente com a TAR, sao as "[...] dinamicas de mudanca social promovidas pela mobilizacao e participacao de diferentes coletivos na solucao dos problemas publicos [...] percebida como um vetor de ampliacao da capacidade dos grupos e da propria sociedade de se reinventar, ou seja, de criar suas proprias regras e convencoes e tambem novas praticas sociais, tornando-se, desse modo, mais criativos e mais autonomos politicamente" (ANDION, ET ALL, 2017, p. 379).

(6) Este trabalho e parte de uma tese de doutoramento intitulada "Seguindo associacoes sociotecnicas sob a luz da teoria do ator-rede: uma traducao da pedagogia da alternancia para rotinas e tecnologias sociais" publicado no Catalogo de Teses e Dissertacoes da CAPES em https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=2228081. Uma versao publicada em livro tem como referencia: VALADAO, J. A. D.; ANDRADE, J. A. Teoria do ator-rede e adequacao sociotecnica: uma traducao da pedagogia da alternancia para rotinas organizacionais e tecnologias sociais. Curitiba: Appris, 2016.

(7) A nomenclatura desenvolvimento sustentavel como objetivo dentro do contexto dos CEFFAs e muito recente, tendo em vista o debate da Conferencia de Estocolmo e o Relatorio Nosso Futuro Comum (SACHS, 2002; 2007). A inclusao foi feita na Rede CEFFAs, de modo geral, influenciada pelo debate de sustentabilidade, mas os documentos originais trazem a nomenclatura de desenvolvimento do meio. Isso faz sentido, pois o conceito de desenvolvimento e contemporaneo ao surgimento da PA, conforme pode ser visto em Heidemann (2010).

(8) Conforme Tureta (2011, p. 72), o centro de calculo "[...] e o local, um laboratorio ou organizacao, onde se podem reunir acontecimentos, lugares e pessoas que se pretende controlar para que ocorra a combinacao das inscricoes desses elementos e o controle possa ser exercido". Essa e uma expressao de Latour para destacar os papeis que os elementos nao-humanos exercem na capacidade de agencia das interacoes sociomateriais.

DOI - http://dx.doi.org/10.17800/2238-8893/aos.v8n1jan/jun2019p19-40
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Author:de Arimateia Dias Valadao, Jose; de Andrade, Jackeline Amantino; Silva, Paulo Henrique
Publication:AOS-Amazonia, Organizacoes e Sustentabilidade
Date:Jan 1, 2019
Words:9586
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