Andreza Matais

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Reportagem

PF investiga se fuga de condenados do 8 de Janeiro foi patrocinada

A Polícia Federal investiga se os foragidos por atos golpistas do 8 de Janeiro tiveram a saída do país patrocinada. A PF não comenta investigações em curso, mas o UOL apurou com fontes que trabalham no inquérito que uma das linhas é apurar se receberam apoio financeiro de grupos bolsonaristas para fugir para a Argentina após a extrema direita chegar ao poder com Javier Milei.

Como revelou o UOL em maio, acusados de envolvimento com a tentativa de golpe de Estado quebraram as tornozeleiras eletrônicas e vivem hoje no país vizinho. Uma operação da PF, realizada após a reportagem, capturou 48 foragidos. No sábado, o UOL mostrou que uma delas oferece auxílio para condenados escaparem.

"Se tiver alguém aí do [inquérito número 49] 21 com risco de voltar pra prisão ou do [inquérito número 49] 22, manda falar comigo que eu ajudo a fazer a travessia com segurança e vim [sic] pra cá", disse Fátima Pleti, em áudio para militantes ao qual os repórteres Amanda Cotrim e Eduardo Militão tiveram acesso.

O advogado Mariel Marra, que defende envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro, admitiu aos repórteres do UOL que "pessoas no Brasil" pagaram ônibus de foragidos para o exterior, mas ele não identificou quem seriam os financiadores. "Existe sim um grupo forte financeiramente por trás que está bancando essas fugas", disse. "Obviamente tem alguém por trás financiando essas fugas."

Em entrevista ao UOL, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o governo está em negociação com a Argentina sobre o destino dos foragidos. "Se esses caras não quiserem vir, que eles sejam presos lá. E fiquem presos na Argentina. Se não, venham para cá."

Milei, contudo, é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por incentivar os atos golpistas que visavam sua permanência no poder após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. Bolsonaro foi o único presidente que não conseguiu se reeleger no período democrático e defendeu a teoria de que a eleição foi fraudada, uma acusação sem nenhuma prova. Na útima semana, o presidente da Argentina esteve no Brasil, em evento ao lado de Bolsonaro. Até hoje, Milei não se reuniu com Lula.

Em entrevista à rádio Itatiaia, Lula aventou, pela primeira vez, que pode anistiar condenados que participaram dos atos golpistas. "Precisamos terminar de apurar todas as denúncias do 8 de Janeiro. Quando tiver todo mundo processado, ou livre de processo, aí tudo bem, podemos perdoar pessoas que estão presas há muito tempo. Anistia é para isso", afirmou. A declaração não repercutiu bem entre os eleitores do petista que defendem a bandeira "sem anistia".

Em entrevista à coluna, o líder do bancada ruralista na Câmara, deputado Pedro Lupion (PP-PR), admitiu que está em curso no Congresso um movimento para aprovar um projeto que anistia Bolsonaro de forma que ele possa concorrer as eleições presidenciais de 2026. Bolsonaro está inelegível por oito anos por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Numa das ações que o condenou ele foi acusado de, em reunião com embaixadores, colocar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, as urnas eletrônicas e a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE, informações que se comprovaram falsas.

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