Temporada de gripe acende o alerta para grupos mais vulneráveis

Vírus influenza pode agravar o quadro de quem tem doenças crônicas, inclusive diabetes; vacinação é a melhor prevenção, dizem especialistas

A estação mais fria do ano começou oficialmente no último dia 21, e a temporada de doenças respiratórias, em especial as causadas por vírus como o influenza, o causador da gripe, também.

Em adultos saudáveis, vírus como influenza e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) não são tão preocupantes, mas podem complicar a vida de quem tem a saúde mais debilitada. "Quem não tem comorbidades e é imunocompetente, ou seja, com um sistema imunológico em funcionamento pleno, pode ficar de cama um ou dois dias, com febre e dor no corpo, mas vai passar pela doença sem maiores consequências", explica a infectologista Christina Gallafrio Novaes.

"O que nos preocupa mais são os imunodeprimidos, quem faz quimioterapia, os que tomam imunobiológicos (comum no tratamento de várias doenças reumatológicas); ou em casos de imunodeficiência primária, quando a pessoa já nasceu com uma certa deficiência, e Aids avançada. A imunodepressão torna esse indivíduo vulnerável a um quadro grave para esses vírus respiratórios. Também são mais vulneráveis os pacientes que têm o pulmão comprometido por DPOC, a doença pulmonar obstrutiva crônica", completa a médica.

Outro grupo bastante sensível aos vírus respiratórios são as pessoas acima dos 60 anos. "As doenças respiratórias são extremamente relevantes para os idosos. A nossa imunidade muda com o envelhecimento. Por isso, os riscos associados a uma infecção respiratória em pessoas mais velhas, inclusive naqueles sem doenças crônicas, é bem maior do que no adulto", alerta o geriatra Marco Túlio Gualberto Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Os pacientes que desenvolvem infecções mais graves podem precisar de internação em unidades de terapia intensiva e de suplementação de oxigênio. As defesas do organismo caem e a pessoa pode ser acometida por bactérias, causando quadros infecciosos complexos, inclusive nos pulmões. "Há risco de hospitalização, de infecção grave, de uma superinfecção bacteriana, e maior risco de morte. É muito além do que um mero resfriado, de coriza e dor no corpo", afirma Marco Túlio.

Ele destaca ainda que a infecção pode tornar mais graves doenças de base, não só ligadas à insuficiência respiratória. "É muito comum o paciente ser internado não pela gripe em si, mas pela consequência que o vírus gera ao agravar condições crônicas. O diabetes pode descompensar e a pessoa ser internada por essa complicação, por exemplo."

A própria internação também é um risco grande para os mais velhos.

"Pode haver danos inclusive na memória, desorientação e perda de cognição, além de diminuição de massa muscular que expõe esses pacientes a maior risco de fraturas. Uma internação hospitalar pode mudar o rumo do idoso de um envelhecimento bem-sucedido para uma vida de dependência e com altos gastos, por exemplo, com reabilitação", explica o geriatra.

O médico destaca ainda uma forte associação entre as infecções causadas por esses vírus e problemas como infarto e AVC, o acidente vascular cerebral. "Vemos sempre que quando há uma forte onda viral, ocorre um grande número de AVCs. Há também mais pessoas que infartam no inverno, o que pode ser uma consequência da inflamação por esses vírus."

A doutora Christina lembra que há tratamentos tanto para a infecção pelo vírus da Covid-19 quanto para a gripe, destinados sobretudo a pessoas com mais chance de agravamento. "São medicações que devem ser tomadas nos primeiros dias da infecção, ambas disponíveis no SUS. Por isso, é importante fazer o diagnóstico preciso da virose. Há testes PCR, inclusive em farmácias, que podem ajudar."

Ela recomenda esses testes a qualquer paciente que esteja com sintomas gripais para ajudar também a controlar a disseminação das doenças. "Se a pessoa mora com idosos, crianças ou imunodeprimidos e contrai algum desses vírus, deve se isolar, evitar contato com outras pessoas e usar máscara de proteção em locais públicos."

Os dois médicos são enfáticos sobre a melhor forma de se prevenir contra os vírus respiratórios: a vacinação, mesmo para quem é jovem e tem uma boa imunidade. "Algumas cidades estão ampliando a imunização para influenza. É sempre bom tomar a vacina. Assim, se evita um dia de trabalho perdido, ter que ficar de cama e até transmitir para os outros", ressalta a infectologista.

No caso de quem passou dos 60 anos, a recomendação é uma dose anual contra gripe e duas contra Covid-19, todas disponíveis no SUS. "Hoje, a Covid mudou um pouco o perfil, ela não causa mais tanta doença grave em adultos, mas em crianças muito pequenas e idosos, especialmente os mais longevos e os mais frágeis, com muitas comorbidades. A Covid continua sendo uma doença grave. A vacina que já está disponibilizada no SUS é a atualizada e protege contra as cepas que estão circulando hoje", afirma o geriatra.

Na rede particular, há ainda vacina preventiva para o público adulto contra o vírus sincicial respiratório. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia recomenda ainda se imunizar contra bactérias, como o pneumococo, causador da pneumonia. A vacina também é distribuída no SUS. E contra a coqueluche, conhecida como tosse comprida, cuja vacina está disponível na rede privada e no SUS, para grupos específicos, como profissionais de saúde.

Por fim, é importante recuperar, especialmente nesta época do ano, outros ensinamentos básicos que foram popularizados durante a pandemia de Covid-19: manter os ambientes sempre arejados, lavar as mãos com frequência, evitar aglomerações se estiver doente ou com a imunidade baixa e, se preciso, usar máscara.

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha