Rodrigo Mattos

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Brilho de Yamal expõe o conservadorismo de Dorival e da seleção

Eram 20 minutos da semifinal entre Espanha x França quando Lamine Yamal acertou um chute de curva, preciso, no ângulo de Maignan. Antes do arremate, deu um corte seco no volante francês Rabiot.

Ironicamente, foi o mesmo experiente Rabiot que, antes do jogo, tinha dito que Yamal teria de fazer "muito mais do que fez até agora" para levar a Espanha à final. Pois fez. Seu gol de empate, marcado apenas com 16 anos, foi o do jogador mais jovem em uma Eurocopa.

Marcou seu gol depois de uma Euro como titular. Na outra ponta, esteve sempre Nico Willians, de apenas 21 anos. Ambos de famílias de migrantes, jovens, rápidos.

Na Copa América, o técnico Dorival Jr. custou a usar Endrick em seu time titular. Chegou a entrar apenas nos 5 minutos finais. Só ganhou um espaço com a suspensão de Vinicius Jr.

Antes da Copa América, o treinador da seleção se justificou: "Temos que ter um pouco de cuidado com o Endrick. Vocês acompanham minha carreira há algum tempo. Eu sempre usei demais as categorias de base, sempre valorizei demais, e sempre tive muito cuidado. Ao mesmo tempo que possamos nos apressar em alguma situação, talvez não tenhamos uma volta e um erro pode ser fatal".

Endrick já tinha sido protagonista de um título brasileiro pelo Palmeiras e era destaque da equipe no 1º semestre. Fez três gols em seus três primeiros jogos pela seleção.

Dorival poderia até preferir outro jogador para o ataque titular. Havia boas opções, muito mal servidas pelo meio-campo pouco produtivo armado pelo técnico da seleção, diga-se. Mas o critério da juventude para ter calma se explica mais por um conservadorismo de Dorival.

Veja que, em sua formação titular, optou sempre por jogadores testados na Europa, de preferência na Premier League ou em grandes times como Real Madrid ou Barcelona. Nos amistosos, ainda fez apostas como Beraldo, também de um grande europeu, mas mais jovem do que a média do time.

Não se está aqui a dizer que isso foi o que levou o time brasileiro ao desempenho e resultados ruins na Copa América. A falta de padrão e evolução táticas após mais de 20 dias de treinos foram mais preocupantes.

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Mas, em uma necessária renovação da seleção, o conservadorismo também pode atrasar o desenvolvimento de talentos como Endrick e agora Estêvão. O brilho do ponteiro palmeirense ocorreu em um momento em que já não teria impacto para uma possível convocação.

Será uma insensibilidade, no entanto, não chamá-lo nas próximas convocações para prepará-lo para a Copa-2026, visto o jogador único que ele mostra ser. Lembremos do erro crasso de Dunga em 2010 quando deixou Neymar de fora, quando no mínimo o jogador poderia estar lá como opção. O Brasil caiu nas quartas sem grandes opções ofensivas no banco.

Às vezes, ficar parado e optar por escolhas "seguras" é mais arriscado do inovar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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