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Valdemiro foi denunciado por importação ilegal de avião; defesa nega crime

Um avião que pertenceu a Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, já foi alvo de uma investigação do Ministério Público Federal por "importação fraudulenta", o chamado descaminho.

O modelo Falcon 900, fabricado pela francesa Dassault Aviation, foi trazido por ele ao Brasil em 2010 e entrou na mira do MPF em 2017. Na época da importação, a aeronave valia US$ 12 milhões.

Segundo a investigação, Valdemiro se beneficiou de um dispositivo da legislação que permite a um avião estrangeiro permanecer no país por até 60 dias.

Quando o prazo vencia, o avião voava para um país vizinho e ficava lá por poucos dias. Ao retornar, solicitava nova autorização temporária.

O inquérito fez parte da Operação Pouso Forçado, que apreendeu outros seis aviões de diferentes proprietários.

Avião Falcon 900, produzido pela francesa Dassault Aviation, mesmo modelo comprado por Valdemiro Santiago
Avião Falcon 900, produzido pela francesa Dassault Aviation, mesmo modelo comprado por Valdemiro Santiago Imagem: Dassault Aviation/Divulgação

O MPF apontou um mesmo modus operandi: a compra era feita em território estrangeiro e em nome de uma empresa, normalmente um banco.

No caso de Valdemiro, a aeronave foi comprada pela empresa de serviços financeiros Wilmington Trust Company, dos EUA, e, segundo o Ministério Público, era utilizada "para fins pessoais e profissionais".

"Os problemas relativos à importação da aeronave ocorreram entre a Receita Federal e a empresa proprietária", diz ao UOL Dennis Munhoz, advogado de Valdemiro.

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"Testemunhas ouvidas em juízo foram unânimes em afirmar que o apóstolo Valdemiro Santiago nunca participou, teve ciência ou assinou qualquer documento relativo à aquisição/arrendamento desta aeronave. A denúncia deu-se por constar o nome do mesmo no registro de voo. O piloto da aeronave [Robson Marcos Lopes] também foi denunciado."

O apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus
O apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus Imagem: Reprodução/Facebook/impdoficial

Engenhosa fraude

Após a investigação, o MPF concluiu em maio de 2017 que Valdemiro cometeu uma "engenhosa fraude para ludibriar as autoridades brasileiras", segundo o procurador Marcus de Viveiros Dias.

Segundo Dias, ele agiu de forma "consciente e voluntária com o nítido propósito de utilizar perenemente em território brasileiro aeronave com prefixo estrangeiro [...] sem a necessária nacionalização e ciente da ilusão do pagamento dos tributos devidos pela internalização do bem".

Confusão de patrimônio

Conforme mostrou o UOL, juízes têm afirmado haver indícios de confusão de patrimônio entre os bens de Valdemiro e os da Igreja Mundial.

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As declarações aparecem em processos de cobrança de dívida contra a igreja, aos quais a reportagem teve acesso.

A convergência dos patrimônios de Valdemiro, que já possuiu lanchas, mansões, carros e outras aeronaves, também aparece na investigação do avião importado.

O MPF detalha como diferentes empresas foram usadas para emitir notas fiscais pelos serviços prestados com o uso do avião, como contratação de pilotos e manutenção.

Na verdade, elas acobertavam "a identidade da entidade que efetivamente utilizava o jato em questão no Brasil e fora dele, denominada Igreja Mundial do Poder de Deus [...] através de seu representante máximo, Valdemiro Santiago".

O apóstolo fazia viagens com a esposa, Franciléia de Castro Oliveira, para destinos como Curaçao, no Caribe, Luanda, em Angola, e cidades dos Estados Unidos. Algumas viagens internacionais duraram até três dias.

"A aeronave era utilizada pelo apóstolo visando agilizar as viagens para cultos e pregação da palavra de Deus em vários países e estados. Referida aeronave não é mais utilizada pela igreja há muitos anos", afirma o advogado de Valdemiro, Dennis Munhoz.

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Processo extinto e acordo de doação

A Justiça suspendeu o processo em 2019, quando o apóstolo aceitou uma proposta feita pelo Ministério Público Federal e pagou R$ 200 mil, divididos entre cinco entidades sociais, a título de "prestação pecuniária".

Ele foi proibido de mudar de casa sem comunicar à Justiça e foi obrigado a comparecer a cada dois meses no Fórum Criminal Federal em São Paulo, "para informar e justificar suas atividades".

"Este acordo não implica em reconhecimento de culpa, muito pelo contrário", afirmou o advogado Dennis Munhoz em nota.

"Para evitar maiores desgastes com audiências, custos, honorários e demais despesas legais, concordamos com a proposta solicitada pelo Ministério Público e homologada pela juíza. Os pagamentos foram pontualmente realizados pelo apóstolo às instituições sociais."

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