Thais Bilenky

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Quando Lula bate em juros altos ele afaga a classe média atormentada

O presidente Lula costuma dividir o país entre ricos e pobres, banqueiros e trabalhadores, mas está de olho é na classe média para expandir seu eleitorado potencial.

Sua campanha contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e contra a manutenção da taxa de juros em patamares altos (10,5% ao ano), visa um público que vai além do "povo pobre e trabalhador" para quem Lula diz governar.

Nas palavras de um auxiliar direto de Lula, o endividamento e o juros são um tormento para muito mais gente.

Quase 79% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo a mais recente Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), divulgada nesta quinta-feira (4).

E quase um terço das pessoas está com dívidas atrasadas --28,8%.

Apertadas, as famílias recorrem ao crédito, mas os juros altos tornam a dívida cada vez maior.

A classe média que ganha de 5 a 8 salários mínimos está afundada em dívida. Boa parte dela não votou em Lula. Mas quando o presidente da República expressa indignação com a Selic, ele ressoa a insatisfação de todo esse contingente.

A classe média baixa, que ganha de 2 a 5 salários mínimos, tem um perfil diferente. Ela se apoia nos serviços públicos de educação e saúde, mas se emancipou do Estado: não recebe benefícios como Bolsa Família.

Teve melhorias, mas ainda não está segura. É uma população temerosa de perder o que conquistou. Não quer saber nem de Lula nem de Bolsonaro. Só quer segurança de que não vai perder tudo. Juros altos assustam.

E inflação assusta muito. Por isso Lula recuou depois de semanas de ofensiva contra o Banco Central.

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A disparada do dólar se deveu, em parte, às declarações do presidente. Alertado por conselheiros de todos os lados, Lula mudou o discurso. Na quarta-feira (3), reafirmou seu compromisso com a responsabilidade fiscal e autorizou o ministro da Fazendo a anunciar corte de gastos. O dólar baixou no dia seguinte.

Se o dólar continuasse em rota ascendente e pressionasse a inflação, o Banco Central poderia aumentar ainda mais os juros.

E o humor dos setores médios azedaria de vez.

Todo político precisa de um adversário. Lula repaginou o seu. Passou a falar menos de Bolsonaro e muito mais de Roberto Campos Neto. Os juros altos associados a demonstrações bolsonaristas do presidente do Banco Central são a nova cara do vilão da vez.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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